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segunda-feira, 16 de novembro de 2009

"Todos têm de aprender a lidar com as diferenças"

É preciso colocar um escorregador que leve as crianças até a piscina, brinquedos aquáticos, piso emborrachado, um chuveirão próximo da área de lazer e uma porta que se abra como a de um castelo. O pequeno Mateus Oliveira Gonçalves, 9, está empolgado com os seus planos de fazer da Casa da Esperança um grande parque de diversão. ``Algo parecido como a Disney ou o Beach Park``, explica com um linguajar formal. O garoto passa boa parte do tempo traçando planos, elaborando sistemas e tentando convencer os profissionais de que um grandioso parque de diversões iria ajudar no tratamento das crianças e jovens.

Há uns três anos, ele participa das atividades na fundação que cuida de pessoas com espectro de autismo. ``Mas eu entendo mais do que eles, claro``, diferencia-se em relação aos outros colegas. Mateus sabe que possui a síndrome de Asperger & considerado um tipo mais leve de autismo. ``Estou aprendendo a me comportar e a respeitar os outros``, diz, eloquente. Entretanto, ele está bem mais interessado em contar sobre o seu projeto. ``Já estou ficando preocupado, precisamos desse parque urgentemente``, reitera.

A fixação por determinado assunto e a comunicação rebuscada são características da síndrome. Os pais chegam a ficar impressionados com algumas palavras que ele cita e com a quantidade de informação sobre determinada temática. ``Ele também gosta muito de navios e trens. Já assistiu ao filme Titanic várias vezes e desenhou a sequência das cenas com uma riqueza de detalhes impressionante``, comenta o pai João Batista, 49. Foi ele o primeiro a perceber que o filho era ``diferente``.

``Ele não atendia ao nosso chamado e estava sempre distante. Tinha medo de barulho de liquidificador e da partida do carro. Costumava também sair correndo sem direção``, lembra. No início, a mãe tentava negar, dizia que ele era igual às outras crianças. Mesmo assim, para João Batista, que tem um irmão autista, os sinais que Mateus passava inconscientemente chamavam a atenção.

A jornada pelos consultórios pediátricos começou quando o menino ainda era bebê. ``Um neuropediatra chegou a me dizer que o Mateus não tinha nada, que eu estava impressionado e vendo coisas onde não existia``, conta. O que poderia ser alívio para alguns pais, não foi para João Batista. Era apenas o início da saga pela busca de um diagnóstico preciso. ``Foi impactante saber que ele tinha a síndrome de Asperger``, reconhece. O maior temor é sobre a possibilidade do menino não conseguir administrar a própria vida. ``As pessoas podem não perceber que ele é diferente no primeiro contato, mas depois vão perceber. Esconder o problema é alimentar o preconceito. Todos têm de aprender a lidar com as diferenças``, acredita.

Entre descidas no escorregador e balanços no pequeno parque montado na fundação, o pequeno Mateus segue planejando estratégias para realizar seus sonhos e brincando, como qualquer outra criança com nove anos de idade. (
Viviane Gonçalves)


PENSE NISSO

``O mundo precisa saber que existem enormes diferenças de comportamento humano. As pessoas estão muito dispostas a descartar alguém que não responde como elas gostariam``,
John Elder Robinson

FONTE : Fábio Adiron

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